quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Copa do Mundo no Mato, por que não?


Se, eu disse se o Brasil for confirmado no próximo dia 30 como país-sede da copa do mundo, Campo Grande pode ser palco deste campeonato para lá de milionário. Portanto, toda e qualquer estratégia para comer uma fatia deste bolo de ouro está valendo. O nosso maior inimigo – nessas horas, o adversário é inimigo mesmo – já compreendeu o lance da jogada logo no inicio do campo, no tiro de meta da grande área, e chegou a afirmar gritando – nessas horas, necessário é gritar e falar mais alto – que Rogério Cene é mato-grossense nato, desde criancinha. Tiveram que corrigi-lo, coitado. Mas, está valendo.
Eu não estava perto quando os inspetores da FIFA disseram estar preocupados com o fato de o Mato Grosso do Sul não ter tradição no fotebol. Olha só a palavra que eles usaram: tradição. Pomba, desde que somos gente, nós, sul-matogrossenses, jogamos fotebol! Só não lotamos o Morenão. Mas, na quarta e no domingo é sagrado: estamos diante da tevê, torcendo para um time paulista ou outro: paulista, carioca, fluminense, e etc. Essa era a hora de não gritar, mas dizer: ei, espertinho, politicozinho, para Copa do Mundo não precisa de tradição, até quem odeia fotebol acaba acompanhando!
Mas, tudo ok, jóia, beleza. O argumento nunca ganhou. A sugestão, quase. O que ganha mesmo no fim é o dinheiro. Se o governo de lá disse que vai arrumar de um jeito ou de outro 1 bilhão – ele disse, é claro, que já tem com quem arrumar – o nosso governador dá mais: 1 bilhão e 200. É por isso que gosto desses caras. Eles sabem que no fim das contas mesmo é o dinheiro, é quem paga mais. Está aí, pronto, fechou. Ganhamos. O resto, é conversa furada. Não adianta vir cônsul lá da Bolívia para apoiar. Hermanos, hermanos, negócios à parte.
O que causa medo no grande André é o fato do governador deles ser amigo do Lula. E para piorar mais ainda as coisas, o presidente da confederação mato-grossense de futebol bebe cachacinha com o presidente da confederação brasileira. Mas aí estamos na esfera do QI, do quem indica. Este também não agüenta quando o dinheiro entra. E quando o dinheiro entra, não precisa nem ficar falando eu sou amigo do Nelsinho, Nelsinho é meu amigo, nós nos amamos, e o amor é tão lindo que ganha tudo, inclusive Copa do Mundo...
Você já viu dois amiguinhos ganhar Copa do Mundo?

Campo Grande, a Capital de meus Poemas.

Encontra-se aqui alguns de meus poemas, contos, trechos de alguns romances, crônicas e comentários. O assunto tratado aqui não é necessáriamente apenas ao que se refere à nossa cidade, entretanto, é a sua ocupação maior: Campo Grande, aqui, é assunto principal, primeiro. Se o vistitante reparar logo ali do lado, verá os arquivos. Leia algo. Deixe um comentário. Participe. Se gostar, tenho outros blogs que você pode acessar clicando as palavras que são grifadas, como estas que se seguem, por exemplo: "Blog das Letras", "Meus Contos e Romances", e o polêmico: Você tem Moral?, que é um site aonde o vistitante é colocado diante de situações-limites da existência humana, sendo levado a dar a sua opinião. Forte abraço e até o próximo post.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Conto: Amor Verdadeiro.

– Não, não. Você não quer casar comigo porque me ama. Você quer casar comigo para não dizer que não conseguiu alguém, para você poder mostrar para as suas amigas que tem um homem, nada mais que isso.
– Eu juro, amor, que quero casar com você porque eu te amo.
– Mas logo eu, Priscila? Tem tantos caras bons por aí. Gente que não fuma, não bebe, não faz besteiras. Você é uma mulher bonita, morena, tem os olhos verdes, pode conseguir o homem que quiser. Por que eu?
– Não sei por que você. O que eu sei é que te amo, Guilherme, e quero você, quero ser sua mulher, sua esposa, a mãe de seus filhos.
– Agora você disse tudo. Você quer ser mãe, é isso e só isso. Você quer ter um homem para te levar nos finais de semana para a casa do seu pai e mostrar para todos os seus parentes que você conseguiu casar, que você não é como a maioria das suas irmãs, primas e tias, é isso.
– Não, não é isso, Guilherme. Eu quero casar com você porque eu te amo.
– Me ama?
– Muito.
– E se eu não puder te dar filhos? Você sabe, eu tenho apenas um coco no saco, o médico me disse que posso não ter filhos, e se eu não puder de dar uma criança, hein? Você vai querer ficar comigo mesmo assim?
– Por toda lei, eu vou.
– Olha, Priscila, eu fumo, e fumo um cigarro atrás do outro, e mesmo assim você ama um homem que fede à nicotina a metros de distância?
– Sim.
– Meu Cristo! Priscila, eu sou um sujeito nervoso. E se eu chegar um dia em casa, com raiva de todo mundo, do meu chefe, das pessoas que me olham feio na rua, das ofensas que me dizem por aí, e eu chegar em casa e quebrar tudo, bater em você? Você vai continuar comigo?
– Eu te amo.
– Me ama, me ama! Meu Deus do céu, como você pode amar um sujeito como eu? De vez em quando eu me injurio, abandono o emprego, deixo o chefe na mão, e fico meses em casa, sem fazer porra nenhuma, só na frente da televisão, tomando conhaque e fumando... Tem vez que estou tão revoltado que até pasta base eu fumo. Você sabe o que é isso, pasta base?
– Sei.
– Sabe mas não deve saber tudo. A pasta base é o lixo da cocaína. É uma droga dos Infernos. Foi o próprio demônio que a fez. Quem fuma, fica endemoniado, feio mesmo, e se eu fumar pasta base e querer dar uma surra em você, quebrar a casa inteira, mesmo assim você vai continuar casada comigo?
– Vou.
– Meu Deus. Eu não presto... Eu bebo, eu fumo, sou um porcaria. E se um dia der cirrose em mim e eu acabar doente, em cima da cama, sem poder trabalhar, sustentar a casa, você vai ficar comigo mesmo assim?
– Eu cuido de você.
– E a casa?
– Eu cuido da casa.
– Você é capaz de trabalhar fora?
– Sou capaz até de mendigar por você, amor.
– Meu Cristo. Eu fumo. Você vê o tanto que eu fumo. E sabe o que o cigarro dá? Dá câncer, Priscila. Vamos supor que eu tenha um câncer, uma enfisema pulmonar, e o meu pulmão estourar de repente, manchar o lençol da cama com sangue, você vai ficar ao meu lado? Não vai pular o fora?
– Jamais.
– Jamais?
– Nunca.
– Olha, eu bebo e fumo. E quem bebe e fuma pode ficar impotente, pode virar brocha. Você é capaz de ficar com um homem brocha dentro de casa? Você vai me amar mesmo se eu não der no couro?
– Eu quero casar com você, Guilherme.
– E se eu te botar chifres, hã? Mulher nenhuma gosta disto. Principalmente se o homem não consegue cumprir às obrigações dentro de casa. E se um dia eu estiver desempregado a um ano e ainda por cima botar um par de chifres bem grandes em sua cabeça, mesmo assim você vai continuar comigo? Vai, Priscila?
– Vou, eu já disse que vou, Guilherme!
– Mesmo se de repente eu for atropelado e ficar paraplégico?
– Mesmo.
– Mesmo se eu ficar em cima de uma cadeira de rodas?
– Mesmo.
– Mesmo se eu for preso, e você ter que ir me visitar lá na Penitenciária Máxima?
– Sim.
– Mesmo se eu resolver apostar tudo o que tivermos numa mesa de baralho?
– Mesmo.
– Você só pode ser uma louca!
– Sou louca sim, e por você, amor.
– E se eu me matar, hã? E se um dia eu quiser pegar uma faca bem afiada, com essa aqui, e cortar meus pulsos, hein? Você vai me respeitar se eu morrer? Vai ficar viúva para sempre, sem se casar de novo?
– Guarda essa faca, meu amor. Eu já te disse que te amo.
– Você me daria a sua orelha?
– Como assim?
– Certa vez ouvi a história de um homem que era pintor e amava uma mulher. Certa vez ele cortou a orelha, colocou numa caixa e deu de presente para a amada dele. Você seria capaz de fazer isso por mim?
– Seria.
– Toma aqui a faca. Corta ela e me dá. Vai, anda, eu estou mandando.
– Mas, amor, eu vou ficar feia, sem uma orelha.
– Não me importa a beleza. Vai, quero ver se você é capaz de provar que me ama. Corta a orelha.
– Certeza, amor?
– Toda.
– Então está bem. Vou cortá-la. Aí, dói, mas eu vou cortá-la. Eu corto a minha orelha e te dou. Aqui, mas está doendo...
– Coragem!
– Ai!
– Pára, pára, está bom, Priscila. Você já provou que me ama. Daqui essa faca. Vou guardá-la. Vou me casar com você. Você é a mulher da minha vida. Não me recusaste a tua orelha. Você é minha. Não vou te dizer que te amo, porque estaria mentindo, o amor não existe. O quê existe é apego. Vou me deixar apegar a você, Priscila, e vou me casar. E sabe esta carteira de cigarro? Vou jogá-la no lixo! Não coloco um maldito deste na boca, muito menos pasta-base. Não quero. Nem conhaque. Cadê a garrafa? Vou jogá-la fora. Pronto, joguei. Estou limpo. Cigarro nenhum vai estourar o meu pulmão, cachaça nenhuma vai desgraçar o meu fígado. Também não quero mais saber de jogo. Daqui para frente serei um homem de bem, bonzinho. Você vai me querer mesmo assim, Priscila? Bonzinho?
– Já te disse, meu amor. Eu quero você do jeito que for...


Estranho, esse blog.
Não o divulguei, fiz poucas postagens, e só hoje já entraram sete pessoas...
De onde estão vindo tanta gente?

sábado, 24 de janeiro de 2009

Campo Grande e seu poema de Protesto e Graditão

Campo Grande deixou de ser provinciana
e se tornou uma dessas mulheres
de costumes e hábitos doentis...

Não usa mais saias cumpridas
a camisa quadriculada
nem se banha mais nos rios.

Agora, anda com saias curtas,
com o ar despudorado, vulgar,
de nariz empinado e o semblante hostil:
ó, Morena, cadê a tua vergonha, outrora tão sadio?

Naquele tempo ter vergonha era um jogo sensual
que enlouquecia qualquer homem.
O pau endurecia mais.
As poesias eram feitas para as noites de luar, enaltecia.
Já hoje,
com todas as tuas modernidades e sofisticações
me faz brochar em cada motel que entro na cidade,
e a perguntar:
onde estão as cachoeiras,
o cheiro pastoril?
Onde está a tua vergonha, oh Morena,
em esconder o seio juvenil?

Campo Grande reclama,
coloca os sapatos, a roupae se levanta: para onde, Morena, para onde?
Responde que para os grandes centros urbanos,
para os pólos industriais,
para as boîtes
onde a música eletrônica dos Estados Unidos impera.

Toma drink’s, red bull’s, exctâse;
viaja com a iluminação aleatória, alucinante,
e caça homens que dão a vida e o sangue em troca do sucesso financeiro.

Depois, vai para um motel,
transa a noite inteira,
não usa preservativos,
e pela manhã vai embora sem ao menos saber o nome do homem,
oh, meu Deus, o nome do homem!

De saia justa, o olhar sério e cabeça erguida,
pára nos cruzamentos,
espera o sinal vermelho,
e atravessa a faixa de pedestres com passos calculados,
como se estivesse nas passarelas do mundo da moda...

O estrangeiro te olha, pergunta o valor, e te compra:
você se vende,
jura fidelidade,
e quando menos espera,
exibe o corpo nas esquinas da 13 e da 14 de Maio,
a uma quadra da Afonso Pena...

Por que, Morena, por que?
Responde que não é mais como a avó,
que quando jovem saciava a peonada nos cabarése os homens distintos nas casas suspeitas.
Diz que não cheira mais a pó,
que não é mais uma vila qualquer,
que agora é pavimentada,
saneamentada como as grandes capitais,
e mais bonita a cada dia que passa...

Ó Morena, de fato
seus braços são bonitos como o asfalto da Fernando Correia!
Seus seios são belos como as casas do Jardim dos Estados!
E o seu sorriso é mais lindo que o pôr-do-sol na praça das Araras...
Mas o seu ânus, ó Morena, é feio
e mais feio é o que dele sai:
o córrego Prosa,
as figuras obscenas na escuridão da Costa e Silva,
as decisões tomadas por certos corruptos no Parque dos Poderes,
a morte de muitos infelizes nos corredores da Santa Casa.

É feio como as crianças descalças nas ruas das favelas,
com a barriga d’ água à mostra.

É feio como o desemprego para os formados na UFMS,
o salário baixo para os professores da Rede Pública de Ensino,
e às suas longas jornadas de estresse e depressão...

Violenta e feia, você se apossa dos bandidos e marginais e diz nas câmeras de tevê:
“Nada a declarar, senhor!”
E uma vez livre, volta para o seu campo de ação...

E lhe pergunto: era este o teu sonho?
Sonhava com isto quando chamaste o mundo todo para ti?
Sonho ou não, vieram para cá os mineiros,
os paraguaios, os árabes, os japoneses, e até os alemães!
Sonho ou não,
em 1918, foste elevada à categoria de cidade,
deixou de ser um campo de faroeste,
de homens e mulheres armadas de 44,
para finalmente se tornar a capital de nosso Estado em 1997.

Era este o seu sonho, ser o que és hoje em dia,
quando todas estas coisas sucederam?

É certo que a idéia de progresso sempre esteve presente em ti.
Não foi à toa, em vão, que surgiu a necessidade de uma ferrovia,
e uma estação no estilo inglês, ó Morena, no estilo inglês!
Para fazer de Campo Grande um centro,
uma passagem,
um cartão-postal de desenvolvimento e urbanização.
Queria dar a mão a São Paulo,
unir Paraguai com o Brasil,
e casar àquele que briga de faca com àquele que luta armado de fuzil...
Queria chamar a atenção dos industriais, dos empresários,
dos homens que lhes pudesse trazer roupas inglesas,
perfumes franceses,
e anéis de brilhantes...

Era isto o que queria, como sempre quis e ainda quer!
E por que, Campo Grande, por que?
Por que esta necessidade de ostentar?

Ao construir o seu primeiro colégio,
mandou vir padres para ensinar a fé cristã,
a fim de formar homens que lutassem primeiro pela justiça
e depois pela vaidade de luxo.
E nada melhor que fosse ao lado da Estação Inglesa!
E principalmente: que se parecesse com o colégio Dom Pedro II!
Mas, na prática, o que se viu foi o nascimento,
o grande nascimento da desigualdade estudantil:
do lado de dentro,
meninos e meninas vestidas de veludo e cetim;
do lado de fora,
a tristeza das crianças pobres que não podiam entrar.

E eu repito: de onde vens, ó Morena,
essa necessidade de ostentar?
Até quando darás mais atenção ao progresso que à Salvação
a salvação dos famintos
daqueles que vivem do lixo
das migalhas que os grandes deixam cairno momento de partir o bolo?
Até quando, ó Morena?
Não te condeno,
nem te crucifico,
acho justo o progresso,
mas precisa esquecer dos famintos?

Veja teus pastos.
Pois eu digo que nem Salomão
no auge de sua glória
teve tanto gado assim!
Olhe
repare
e veja
o quanto teu salto é alto,
e tome cuidado para não caíres...

Ó Morena, olhe bem para ti!
Aprenda contigo mesmo,
E te converta!
Porque, ó Morena,
se a sua idéia fixa pelo progresso te faz prostituir,
o mesmo não ocorre quando você luta pela sua sobrevivênciae por sua identidade....
É quando você se torna bela, única, diferente,– é quando você alcança a Redenção.

É quando me faço esquecer dos números das estatísticas,
dos sensos,
dos anais de sua História Política,
e me deixo fascinar por teus encantos.

E então,
Pelas ruas da tua cidade, ó Morena,
Eu saio em busca do meu poema,
E do meu canto.

E te vejo vestida de boiadeira,
dançando e bailando nos Rachos e nos Galpões da cidade:
nas vaneiras e nos vaneirões é gaúcha,
nas polcas e nos chamamés é paraguaia.
Nos forrós é nordestina,
e no grito do peão é hê, Morena...

E te vejo pantaneira,
tomando tereré na rodas de amigos
em plena segunda-feira!

Pantaneira ainda,
nos finais de semana toma cerveja o dia inteiro,
e se consome no churrasco e na pinga,
em baixo dos pés-de-cedro
ao som da viola e da sanfona sanfoneira.
Eita, Campo Grande brasileira!
Dança e dança, gruda e gira,
e rebola,
e canta,
e briga,
e depois pede desculpas às mulheres,
que sempre são mães
e são tias,
que não fossem por elas
não tinha almoço
nem haveria sobremesa
nem ambiente familiar.

Mas Campo Grande não é só isso,
e ser da região é também ser estrangeira.

Durante a semana, finge ser árabe,
faz comércio, vira mascate,
vende até o que não tem;
para, na hora de gastar, fazer como faz o brasileiro:
“e mande as esfirras,
e traga os quibes, as kaftas, o pão sírio,
babaganuche, homus e coalhada seca...
Cadê o meu arak, filho?
Assim o arguile perde a graça...
E a cerveja?
Me trás aquele dançarino, metido a sweik,
Que eu danço a dança do ventre para ele...
A conta?
Tudo isto?
Brasileira?
Olhe aqui, seu turco!
Libanês?
Que seja! Se você gosta de briga, pode vir!
Abaixe esses preços!
Me dê desconto se não nunca mais eu volto,
e te difamo,
te calunio,
porque também sou fofoqueira!
Chamushka!
Outra hora, coloca o seu kimone, usa rashie vira japonesa.
Se comporta timidamente,
Olha com os olhos desconfiados,
E trabalha entre silêncios e risinhos.
Faz yakimeshi, sobá, pastel, espetinhoe vende na feira ao lado das frutas, das verduras e legumes...
E se aí não está, usando jalecos e aventais,
Se mete nos hospitais nas funções de médicas e enfermeiras.

Ó Morena,
Como você fica meiga
Quando se faz de italiana!
Com as cores brancas, verdes e vermelhas
Cobre de toalhas as suas mesas
E serve as massas e vinho de primeira!
Os canelones, as pizzas, e as lasanhassão feitas com a mesma façanha
que o Scherzo.

Oh, Morena,
Quando se vestes de branco,
e se enche de colares de seus guias
eu me torno um baiano,
e entro na ginga.
Nos terreiros eu te vejo dançando,
rodando a saia baiana,
dando passos,
fumando charutos
e marcando ponto.

E uma hora tu se chama Pomba-Gira,
outra hora, leva o nome de cigana,
quando aconselhas é preta-velha,
quando amas é Aruanda.
E nos pontos de fogo fecho meu corpo
em casa tomo banho de descarrego,
de noite tenho você na cama
e de dia tenho ciúmes o tempo inteiro...

Por ti, Morena baiana,
Entro na roda de capoeira,
Gingo ao som do birimbal
E dou um martelo,
E um macaco,
E uma benção,
Giro o pião e dou um mortal.

Depois,
com o som cada vez mais rápido,
sigo o quebra-gereba
e bato:
ton-tim-tim-ton-don-don-tim-tim-ton
-ton-tim-tim-tom-don-don
tin-tin-ton
Ton-tin-tin-ton
Ton-tin-tin-ton
Ton-tin-tin-ton-don-don
Tin-tin-tom:“Eu não sou daqui, marinheiro sou!”

Fora da tua zona de prostituição,
Tu és bela como o Mercadão Municipal
e os pacús, as piraputangas e os dourados vendidos ali.

É mais colorida que o seu pitoresco arsenal de pimentas,
verduras, legumes, ervas mates e medicinais.
É mais gostosa que os queijos caipiras, as mussarelas de bufulas,
O pastel e as chipas.
É mais excitante que o sukiaki.

Olhe, e aprenda com os vendedores no camelódromo:
podem até vender produtos do Paraguai,
mas fazem isso com dignidade,
acordam cedo e para cada passante faz o convite:
vai uma bolsa, minha senhora?
Vai um boné, garoto?
Computador?
E vendem calcinhas, sutiã, blusas e calça jeans.
Vendem guarda-chuvas, e vendem relógios
E semi-jóias.
E os pobres que admitem ser pobres se maravilham,
E os pobres que não se dizem pobres compram e se escondem,
E os ricos que são espertos compram e saem felizes da vida...

Veja e aprende, Campo Grande, contigo mesma...

Glauber da Rocha

Conto: O Rato.

Eu não sabia que tinha um segundo animal dentro de casa: o primeiro era o Rex, um pincher bem engraçado, domesticado; o segundo, um camundongo enorme, feio, desses que conhecem as profundezas dos esgotos, de por medo até em homens marmanjos como eu. Não, não sou medroso. Já fui. Hoje, encaro de frente as aranhas caranguejeiras, as lacraias, os escorpiões, as cobras e os morcegos. É certo que quando os vejo, sinto medo, mas, é tudo momentâneo: logo vêm aquele dever de homem da casa, o dever de não ter medo.
Vi o animal. Passou correndo no vão da parede de minha varanda, em direção à rua. Ao me ver, voltou, apavorado, e se escondeu sabe lá onde. Não tive outra vontade senão caçá-lo! Me coloquei então num estado de caçador, que nem esses que saem em safáris. Andando lentamente pela casa, pelo quintal, pisando levemente para não assustá-lo com barulho, procurei-o em tudo quanto é buraco. Logo a curiosidade da minha família manifestou-se, perguntando o que eu estava procurando. Falei que um camundongo. A minha mãe riu, com a minha ofensa.
Procurei aqui, procurei ali, procurei acolá, e, até que enfim, achei o bicho cabeludo, feio e horroroso. Havia um cabo de vassoura perto e eu peguei e matei o bandido. Foi um golpe mortal. O bicho soltou um grito, depois foi gemendo, perdendo as forças e morreu numa solenidade que nem certos humanos conseguem no ponto mais alto da vida: morreu sim, mas com classe.
Peguei no rabo da defunta (fiz questão de ver o sexo da ratazana) e saí exibindo o meu troféu. Minha irmãzinha saiu correndo de medo, apavorada, chorando, e eu disse comigo mesmo: preciso dar um jeito nessa menina, anda muito exagerada. Meu irmão sorriu, dizendo com seu sorriso: o que será que ele está sentindo nesse momento? Minha mãe, coitada, ficou morena de vergonha: aonde já se viu, limpo essa casa de noite e de dia e de madrugada e nos feriados e no frio para no fim das contas aparecer um camundongo desse tamanho? Eu quero o divórcio!
Divórcio de quem?
Coloquei o bicho no seu caixão merecido: a sacola de lixo, e levei lá na frente, na lixeira. Bati uma mão na outra, limpando-as, e disse: na casa de minha mãe não tem ratos! Engano. Dias depois, encontrei um filhotinho – que devia ser dela – sem conseguir sair da sacola de plástico dentro do lixo da cozinha, ao lado da pia. O lixo estava praticamente vazio, e ele segurava com as duas mãos no plástico para não cair. Peguei o cesto de lixo e balancei-o. O rato ficou bem assustado, arregalou os olhos e me olhou pedindo pelo amor de Deus, tio, pare com isso...
– Eu, tio? Tio uma ova!
Você vai morrer, rato safado, porque eu sou um assassino, um ateu, um transgressor da moral e dos bons costumes, e você, rato, é um roedor mais maldito do que eu, todo mundo fala mal de você, portanto, te matar vai ser um benefício para o Mundo, para a Humanidade. Mas eis que indo para cima dele, resolvi não matá-lo, era novinho de mais, uma criança, e órfão, o rato...
Ou o meu marcador de visitas ficou louco, ou é a mais pura verdade: este blog não tem um dia de vida e já conta com mais de quarenta visitas!

EU

Eu sou um poeta de Campo Grande.
O mais desconhecido de todos,
quase sem nome.

Difícilmente sou visto na televisão,
Dos repórteres sou um estranho.
Apenas um leitor ou outro me conhece,
Mas de tudo isso eu pouco ganho...

Ninguém escreve sobre os meus versos.
Nunca apareci nem mesmo na Folha do Povo.
O Correio do Estado nem sabe que eu existo,
Para a Academia de Letras eu devo ser um caolho...

Um lenguelhé, um mancueba, um fanho.
O analfabeto entre tantos outros.
A voz muda sem o devido silêncio,
A face do poeta que não possui rosto...

Mas tudo isto é porque eu gosto e quero.
Viver sem fama sempre melhora o poeta.
Não ser reconhecido evita a quebra do poema
Que se faz em versos enquanto ando...

E ando...

Porque é nas ruas desta cidade Morena
Que saio em busca de meu Poema
E de meu canto...

E a encontro
Em cada esquina que me atravessa
Nesse meu caminho sem pressa
e sem acalanto...

De nada lamento.
Gosto mesmo é de andar com o vento
e com ele conversando...

Quando vejo,
dou conta de que estou no centro,
atravessando a pequena ponte
do prosa que não tem mais segredos...
Glauber da Rocha.
>>> poema em construção, daqui a pouco, postarei mais alguns versos...
Qual é o cartão-postal de Campo Grande que você mais gosta? Eu, por motivos muitos especiais, gosto deste:

A Morada-dos-Baís.






Já outras pessoas, preferem o grande parque:







O Parquê das Nações Indígenas.


Veja como é ali o início da noite:








...

Mas há quem prefere a feira, "feirona", com era chamada antigamente, e agora, Feira Central, ou simplesmente feira:


hum..., para quem gosta de uma boa comida japonesa, pasteis, espetinhos, gente bonita, aqui é um ótimo lugar...





Mas, há pessoas que de todas preferem esta:




A Estação Ferroviária.
Seus aprecioadores? Urbanistas, historiadores, poetas...




Mas, há os ambientalistas, os naturalistas, os amantes do Pantanal e da Natureza, e vão dizer que o cartão-postal mais bonito de nossa cidade é este:



As Araras da Praça das Araras...






De fato, é uma cidade linda:










Lindíssima...








com arte...













artesanato...








ciência...










comércio...










poder...








sim, poder também, por que não? E há aqueles que de todos os lugares da cidade, prefere o Parque dos Poderes... Acham este o lugar mais bonito da cidade...


Não é de ficar espantado?










Brincadeira...
Mas aqui é uma cidade que tem de tudo: filosofia, ciência, arte, beleza, urbanismo, religião, enfim, tudo o que uma cidade que quer ser feliz precisa ter. Uma cidade alegre, bonita - tanto é que a Nossa Senhora, aqui, no lugar de chorar sangue, derrama lágrimas de mel...










Estamos bem. Mas é claro, precisamos melhorar. E quem gosta de Campo Grande, ajude! Quem não gosta, pode pegar este avião:








e ir embora!



Gostaram?
Diga qual cartão-postal da cidade que você mais gosta.
Participe!
Este site foi feito para você, amigo campograndensse.
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Na praça Ari Coelho . Na praça Ari Coelho também sou um velho jogador de damas que perde, vence, ri e debocha... Como é prazeroso esquecer a...